sábado, 18 de fevereiro de 2012

A visita

Foi num dia de verão quando meu pai resolveu convidar o senhor  Cesar Cerqueira para jantar na nossa casa. O senhor Cesar Cerqueira era o chefe do meu pai que por coincidência nascera na mesma cidade que este e por isso tinham muitas coisas em comum para conversarem. Foi também por pura coincidência que ambos ficaram sabendo da tal da coincidência, pois numa discussão com um revendedor, disseram os dois ao mesmo tempo: _Pra mó de que moço vai lamber porco!... Ambos se entreolharam e riram também ao mesmo tempo, assim sendo, conversa vai e conversa vem, descobriram os dois serem ordinários de São Jose do Rio Preto. O relacionamento não poderia ir melhor do que estava sendo até então,  se tornaram amigos, independente do nível hierárquico que os distinguia. Claro que havia exceções, por exemplo, meu pai  jamais fora convidado pelo senhor Cerqueira para passar um fim de semana em sua casa de campo, ou andar em seu Iate, ou receber como bônus um ticket de avião para a Bahia ou outra como o senhor Juvenal dos Santos, o homem que fechara mais de 228 contratos em três meses recebera.  Não, não, eles eram amigos, nasceram na mesma cidade, mas o Senhor Cerqueira sabia muito bem o que os distinguia um do outro.  Demorou um bocadinho para que o Sr. Cerqueira em fim aceitasse o convite de meu pai . Quando viu que não tinha mais desculpas, que já matara quase toda a família , acabou marcando o tal do compromisso.
Minha mãe se empetecou toda, parecia arvore de natal e meu pai comprou o perfume mais caro que tinha e se banhou todo com o mesmo.  A mesa de jantar fora decorada a pronto e os talheres de prata, minha mãe os emprestou de minha tia que pediu pelo amor de Deus que os devolvesse completo.  Os copos foram polidos, os guardanapos eram de pano e a toalha alva sem manchas como eram de costume ter em casa, fora colocada sobre a mesa. Os pratos também foram emprestados, não pela minha tia, mas da vizinha que adorava a gente ( eu nunca entendi porque a vizinha gostava tanto assim da gente, o que sei é que ela sempre sorria para o meu pai quando esse chegava do trabalho e ao estacionar o carro a mesma estava exatamente do lado de fora regando o jardim. Até mesmo no outono, onde quase não haviam flores para serem regadas, lá estava a D. Veridiana regando o matinho.
Meu pai então se chegara para mim e dissera:
- Ernestinho meu filho amado, preciso de tua ajuda!
- Minha ajuda?  - perguntei eu meio desconfiado, pois a última vez que me pai me pediu ajuda foi para  ficar falando com a minha mãe enquanto ele se comunicava com alguns convidados para uma festa surpresa que ele queria fazer para ela. No final da conversa que eu começara com minha mãe, estava ela decidida que eu precisava urgente ir para um terapeuta.
-Ernestinho meu filho, você já esta quase um homem. Treze anos de idade! Ah, quando eu me lembro dos meus treze anos de idade...
- Ok, papai! – (Pensei comigo mesmo, caso o senhor se lembre dos seus 13 anos de idade, tenho certeza que metade o senhor vai inventar e a outra o senhor pensa ter vivido.)
- Eu era um garoto assim como você, bonito, inteligente, responsável e sabia exatamente o que queria para o futuro e...
- Ah é? – perguntei eu inocentemente – E o que foi que aconteceu que tudo mudou?
- Hã? –  perguntou ele meio sem graça, talvez por ter percebido que eu falava a verdade e não entendera ele como um desacato.
- Bem! – pensara ele por alguns segundos e então respondera: _Exatamente aconteceu comigo o que não deixarei acontecer com você.  – dissera ele convicto de suas palavras.
- E o que foi que aconteceu papai?
- Meu filho, quando eu tinha a sua idade, as meninas  faziam fila para estarem ao meu lado, todas queriam um pouco de atenção  e...
- E então porque foi que o senhor pegou a mamãe?
(Não entendi porque meu pai riu neste momento, e continuei prestando atenção no que ele tinha a me falar)
- Sua mãe foi muito bonita meu filho e......
- Ah, já entendi o que o senhor quer me falar, mamãe pensou que o senhor ia continuar a ser bonito inteligente e responsável e o senhor pensou que a mamãe iria continuar a ser bonita, por isso se casaram e agora conseguem enxergar que nada do que vocês pensaram é verdade?
- Naaaaaaão, Ernestinho, vê se cala tua matraca e deixa-me falar e...
(Será que eu estava enganado ou meu pai estava nervoso? Mas nervoso com o que?).
- Ernestinho, é o seguinte: O Senhor Cesar Cerqueira tem uma filha, segundo ele ela é linda de morrer, inteligente, estudiosa, caprichosa, talentosa e...
- Já entendi, o senhor não quer que eu olhe para ela, pois ela vai ficar que nem a mamãe, é isso`?
- Que é isso menino?  Fique sabendo que tua mãe é muito bonita, e......(meu pai deu um suspiro profundo como se tivesse relembrando o passado) ......o que eu quero dizer ( voltara ele a calma com a qual começara a tal da conversa que eu não estava entendendo nada) O que eu quero dizer é que você sendo bonito do jeito que é, e ela linda de morrer, quem sabe, se acaso você não venha a gostar dela, e quem sabe, podem se tornar amigos e você sabe como é, conversa aqui, conversa ali, risinho aqui , risinho acolá.......Meu filho, o que eu estou  te pedindo, da uma paqueradinha na menina e.......
- Ah! Agora entendi! – disse eu com um sorriso no rosto – O senhor quer que eu conquiste a menina para quem sabe um dia eu casar com ela e a fortuna do pai dela vir para mim, não é isso?
- Que é isso menino? Não é isso o que eu estou falando, o que eu estou falando é para você só ficar amigo da filha do Sr. Cesar e ele ver a boa educação que eu dou a você e se a filha dele quiser vir aqui, então o pai dela terá que vir também e ai quem sabe o papai sobe de cargo e...
- Já entendi papai, o senhor quer que eu namore a filha do senhor Cesar Cerqueira.
- Não precisa namorar meu filho, mas se você se tornar amigo dela... Você sabe família que luta junto, permanece unida.
Meu pai deixou um sorriso formar-se em sua boca e com um tom suave disse:
- Você é um Cabreira mesmo, Ernestinho! Mas não esqueça se faça de difícil, ok?
Para que o evento fosse perfeito, meu pai mandou Plinio, meu irmão caçula, para a casa da minha tia, pois ele não era flor que se cheirasse e poderia arruinar a sua noite.
Meu pai dera as seguintes recomendações a todos os presentes:

1-      A Cada toque do interfone deveria Brigite, nossa empregada que na verdade se chamava Severina, trazer o vinho que meu pai pagara uma nota, segundo ele, e servir o Sr. Cesar Cerqueira.  O primeiro toque, no entanto significava que Brigite deveria adentrar a sala e perguntar para o Sr. Cerqueira, bem como para o papai e a mamãe, o que ambos gostariam de beber.  (Meu pai comprara todo o tipo de bebida alcoólica e não alcoólica também). Minha mãe deveria entrar depois de um minuto que o Sr. Cerqueira já estivesse em casa.

2-      Minha mãe deveria levantar-se pelo menos duas vezes da mesa e seria acompanhada  do cavalheirismo de meu pai, que também se levantaria, num sinal de respeito.

3-      Minha mãe deveria fazer perguntas como : Querido, desculpe-me lhe perguntar, mas me veio agora a memoria, você chegou a telefonar para o Sr. Edir, ele me disse que durante horas tentara fazer contato consigo para saber o que ele deve fazer com os alqueires que ele comprara?

4-      Meu pai responderia  que já solucionara tal fato e minha mãe se desculparia pela importuna pergunta...

5-      Eu deveria puxar a cadeira para que a tal da filha do Sr. Cerqueira se sentasse.

6-      Brigite (Severina) deveria permanecer com o bico calado.

7-      Caso fosse à pergunta dirigida a mim o que eu queria ser quando crescesse, deveria eu responder que quero ser  médico.

8-      Caso o senhor Cerqueira perguntasse por que médico, então eu deveria formular minha resposta da seguinte maneira (recebi um texto de meu pai com tudo escrito que tive que decorar, e eu sempre fui bom em decorar):

_Essa é uma área que aguça minha curiosidade, Eu quero me aprofundar no estudo, me tornar um especialista. Eu acredito que o futuro de um homem está no exercer desta profissão. Eu acho que eu tenho talento para tal, já a alguns anos  faço algumas experiências, claro não muito severas, mas o suficiente para colocar em pratica essa minha aptidão.

9. Caso o senhor Cerqueira pergunte que tipo de experiências faço, devo dizer que:   Às vezes examino insetos, animais, sem machuca-los é claro, e as vezes tento diagnosticar em meus próprios amigos qual o problema que eles tem. Tudo em pró da medicina à de se entender.


A campainha tocou às 19 horas. Brigite (Severina) estava com tudo pronto, a comida estava no ponto para ser servida. Ela era a que estava mais afoita de todos nós. Minha mãe trajava um Kaftã dourado e meu pai de terno e gravata.  Papai abriu a porta. Eu, mamãe e Brigite, nos encontravam atrás da porta da cozinha. 
Esperamos ansiosos. Mamãe entrou em cena, agora restava eu e Brigite.
Esperei dois minutos e então entrei.
Meu olhar buscou a filha do senhor Cerqueira.
La estava ele! O senhor Cerqueira e... Meu Deus do Céu? – Meus olhos pareciam não acreditar no que eu via. A filha do Sr. Cerqueira?
- Olá meu jovem? – cumprimentou o patrão do meu pai.
Permaneci por alguns segundos completamente mudo, fixando o meu olhar na menina que estava a minha frente, ignorando a outra ao lado desta completamente.
- Ernestinho, meu filho! – dissera meu pai colocando a mão sobre meu ombro (de uma forma um tanto pesada) Diga olá para o Sr. Cerqueira, ele esta falando com você!
- Ora, Ora Cabreira, não vê que o seu filho tem olhos voltados a outros interesses?
 Eu não precisei olhar meu pai para saber que ele sabia o que eu pensava naquele momento.
- Oh o-o-olá, Sr. Cesar Cerqueira, eu sou o filho do meu pai e... quero dizer... eu me chamo Ernesto e, bem... essa que é a sua filha?
Percebi que ele me dera um sorrisinho amistoso
- Não, não, minha filha é esta aqui – dissera ele apontando a menina que estava ao lado da Deusa que eu tinha a minha frente. Meus olhos se desviaram lentamente, como se estivessem presos por um magnetismo poderoso.  E ai eu avistei a menina que o Sr. Cerqueira  indicava.
- Que Deus me perdoe! – disse eu em pensamento – Que, que é isso minha gente? Isso não é uma menina, isso é um Hipopótamo! A menina não era grande... Ela era gigante e enooooooooorme de gorda! O rosto dela parecia uma pizza-família. Só um braço dela era do tamanho da minha perna e... Eu não tinha palavras para descrever o que eu via... Eu olhei abismado para aquela garota tão gorda e desproporcional e então meus olhos se voltaram para a menina linda, de olhos castanhos e cabelos negros, figura de modelo de revista...
- Olá! Meu nome é Mariá, obrigada pelo convite que vocês fizeram ao meu pai.
Qual é o seu nome? – perguntei a beldade a minha frente ignorando novamente a outra moça.
- Penélope, mas pode me chamar de Pamy... todas as Cheerleaders (praticante de animação de torcida) me chamam de Pam...
- Pam......Muito bonito o seu nome!
Foi só eu elogiar e o peso do braço de meu pai se tornou maior e percebi que eu tinha que dizer algo para a tal da gordinha...
- E você, como é que você se chama?
- Mariá... eu já havia lhe dito! - disse ela ficando vermelha nas bochechonas.
-Prazer Maria. 
-Mariá! Não é tão difícil, você só tem que dizer Maria, mas acrescentar uma entonação na letra “a”.
- Ok, ok... Mari... aaa?
- Isso – respondera ela, ficando vermelha nas bochechonas novamente.
-Essa é minha filha! – dissera o pai todo orgulhoso.
Por tudo que eu poderia esperar na minha vida, jamais imaginei que a filha do Sr. Cerqueira  fosse tão......tão......como posso dizer? Imensa, enorme... Volumosa.
O Senhor Cerqueira  olhou meu pai e então me olhou:
- Uau! Seu filho é mesmo direto em Cabreira?
Tenho certeza que meu pai se sentiu fracassado, afinal, já a primeira regra eu falhara  eu olhara para a menina errada.
 No primeiro toque de interfone aparecera como combinado, Brigite que fora apresentada por meu pai. Minha mãe que já se encontrava na sala, pedira como bebida uma tônica, meu pai um Whisky puro, o Sr. Cerqueira uma pina colada, para mim e para Penélope fora servido limonada e para a Mariá fora servido......sei lá o que......
 

Nos sentamos a mesa para o jantar. Brigite serviu como entrada camarão  gratinado com empadinhas de camarão. O senhor Cerqueira parabenizou a entrada, Penélope deixou a massa da empadinha de lado e Mariá limpou o prato.
O prato principal fora servido  comida típica alemã, Joelho de porco com Knödel.....Sr. Cerqueira ficara admirado com a especialidade e Mariá foi a que mais elogiou.
Durante ao jantar foram debatidos vários temas até que eu ouvi quando meu pai falava sobre profissão, a  palavra chave fora mencionada:
- Meu filho deseja ser algo bem diferente de minha profissão!
- Eu sabia que eu estava no ar, assim sendo, me postei em minha cadeira e esperei até que meu pai me dirigisse à palavra:
Não foi ele que me dirigiu, mas sim o Sr. Cerqueira:
- E o que você deseja ser meu rapaz?
- Medico – disse eu prontamente
- Em qual área?(Opa, pensei eu – isso não fora decorado ...........Como foi o nome que o Antônio disse, Gení.....Gení.....cola .......gista? – Ok, mais ou menos isso, diga rápido e ninguém vai perceber a diferença, disse eu em pensamento.
- “Genicolagista”!
Um riso geral
- Meu filho e suas piadas.........- dissera meu pai avermelhado encarando a cara do sr. Cerqueira . Ambos sabiam que eu não sabia do que eu estava falando.
- ha, ha, ha, ha.........- rira Mariá – É um excelente trocadilho , na minha turma nos usamos também tal trocadilho.....Geni para Gine, cola para colo, gista para gista....Ginecologista.......muito boa , eu jamais imaginei que eu ouviria isto de você Ernesto?
- Ginecologista? – perguntei eu a mim mesmo? Estaria a menina com cara e corpo de hipopótamo me dando uma chance para eu não padecer em minha ignorância?
Seria possível que aqueles olhos amendoados, cheios de ternura estavam me dizendo , agarra essa explicação, pois esta é a tua salvação!
- Você sabe exatamente como eu sou papai, eu e minhas piadas.
O riso do Sr. Cerqueira se fez presente e Penélope então fez a pergunta:
- Ginecologista? Mas porque ginecologista?
- Deus do Céu!  Sei lá porque! – pensei comigo mesmo -  foi um amigo meu que disse que queria ser ser genicolagista,.......como é mesmo o nome? Ele disse que seu pai o era e ele queria ser igual ao seu pai, portanto, seja lá o que for, era ser medico especialista............mas a minha maior pergunta estava  em o  porque Penélope queria saber o porque, não poderia ela permanecer na minha explicação de ser medico e a área que eu queria atuar, ? Ok, vamos responder o que meu pai me fez decorar.
-Essa é uma área que aguça minha curiosidade, Eu quero me aprofundar no estudo, me tornar um especialista. Eu acredito que o futuro de um homem está no exercer desta profissão. Eu acho que eu tenho talento para tal, já a alguns anos  faço algumas experiências, claro não muito severas, mas o suficiente para colocar em pratica essa minha aptidão.
As vezes examino insetos, animais, sem machuca-los é claro, e as vezes tento diagnosticar em meus próprios amigos qual o problema que eles tem. Tudo em pró da medicina à de se entender.
- Em seus amigos? – perguntara Sr. Cerqueira
- Sim , claro, com a maioria deles........Eu diagonizo( como é que fala mesmo?) Dia.....
- Diagnóstico – disse Mariá.
É.....exatamente, dou o dia.....diagnostico
- Diagnóstico – repetira ela
- hahahahhahahahha- prestando atenção heim! Hahahahhahahahahha- “gordinha que sabe tudo!” Pensei eu .
- O que é um Geni.....o que faz  ....quero dizer ....eu não entendo...o que é um geni......ligista.- perguntara Penélope à mesa e por um momento não sei porque, todos se calaram mas Mariá tomou a palavra.
- Ginecologista ? Ah! Ernesto me permita esclarecer, por favor!
- Ok!... (pensei comigo, diga para que eu também fique informado e faca do teu talento o meu talento)
- A ginecologia literalmente significa "a ciência da mulher", mas na medicina é a especialidade que trata de doenças do sistema reprodutor feminino, útero, vagina e ovários.
Foi então que percebi que existia alguém mais forte à nossa mesa. Alguém mais bonita, alguém mais poderosa, alguém mais inteligente, alguém mais amiga, alguém mais gente, mais real, mais honesta, mais sincera, mais mulher... muito mais gorda.....esse alguém era Mariá
Passado o incidente, falamos de outras coisas...
Penélope me disse que o time de futebol........sei lá qual era o nome do time.....Seu pai era o.....Quem era o seu pai? ... Ela gostava de... Do que que ela gostava?.......
Voltando a Mariá!... (suspiro). Sim voltemos a ela. Mariá. Ela me disse que sabia que eu não sabia do que eu estava falando.
Dois dias depois nos encontramos a frente de um cinema e assistimos “Marcelino, pão e vinho”, uma reprise e choramos os dois. Tomamos sorvete, comemos pizza e eu levei uma paulada na cabeça de um bando de garotos por defender Mariá, que a chamaram de “gordona. Fui internado, meu pai promovido. Mariá e eu éramos amigos. Trocávamos segredos, sentimentos, conversávamos e riamos muito, mas na hora do choro, estávamos sempre presente um para o outro. Mariá se tornou tudo para mim. Eu a amei mais do que a mim mesmo. Certo dia o telefone de casa tocou... Era o Sr. Cerqueira. No dia seguinte estávamos a rezar o pai nosso e a jogar terra no túmulo de Mariá. Ela se foi e a comedia de tudo isso é que eu entendi o que significa ser belo... É ver o que os olhos não veem , mas sim o que o coração sente. Eu te amo Mariá.

domingo, 6 de novembro de 2011

Ernesto Cabreiro



Era uma segunda-feira, em Fevereiro, quando começaram as aulas. Eu havia sido matriculado num colégio, que ficava bem próximo a minha casa. Claro que como toda criança normal, eu esperneei, chorei, gritei e pedi pelo amor de Deus para minha mãe me deixar ficar em casa, o que em nada adiantou. Minha mãe teve que me arrastar, contra minha vontade, até chegar ao colégio que era maior do que São Paulo (Naquela época ouvi falar que São Paulo era muito grande e, portanto, tudo que era grande para mim, era maior do que São Paulo).
Era o meu primeiro dia de aula.  Eu me assustei ao avistar aquele monte de crianças, de todos os tamanhos.  Meu Deus! Imagine você o que foi que eu senti ao ver àquele bando de crianças de tamanhos desproporcionais ao meu?  Até um tempo atrás eu brincava ainda com crianças que eram, todas, do meu tamanho e de repente, a coisa mudou de figura, ou melhor, de tamanho. Definitivamente o meu mundo estava para se tornar outro. Eu, Ernesto Cabreiro, começara com a vida de seriedade e responsabilidades da qual meu pai havia dito. Eu, Ernesto Cabreiro virara um homem com H maiúsculo.
Mas agora era tarde para voltar atrás. Lembro-me que estufei o peito de ar, encolhi o bico de choro e então, com minha mãe, passei pelo secretariado, alcançando por fim o pátio do colégio, onde as crianças formavam fila, para irem para a classe. Eu pertencia à fila um A, ou seja, primeiro ano, classe A.
Minha mãe me deu um beijo e disse para eu entrar na fila. Para quê? Eu resolvi começar novamente com o meu escândalo. Primeiro, como que em câmera lenta, contorci minha boca mostrando os dentes, depois fechei os olhos espremendo-os com toda a força e por último segurei respiração até ficar com a cara roxa, como quem fosse explodir, dai soltei os berros e para completar meu teatro, esperneei como se estivesse tendo um ataque epilético.  Claro que todo mundo olhou para mim, principalmente a secretária, que sairá correndo para o pátio, para ver o que estava se passando.
Minha mãe ficou me olhando, com cara de quem diz: Eu não conheço essa criança!  Seu olhar voltou então para a secretária, depois de novo para mim e por último para a criançada que já se encontravam todos quietinhos em seus lugares observando, de camarote, o meu teatro.  Abaixando-se até minha orelha, sussurrara ela com toda sua autoridade:
- Para com isso menino! Olha só o vexame que você esta dando.
 Claro que não ficara somente no – Para com isso menino!...Minha mãe, vendo que ao contrário de parar, eu começara a gritar ainda mais alto, lascou ela, disfarçadamente, com um sorriso meio sem graça, um baita dum beliscão no meu traseiro, dizendo as seguintes palavras de motivação: Se você não parar agora com esse teatro aqui, a gente vai ter uma conversinha em casa.
Ops! - pensei comigo mesmo - a coisa ficou séria!   Quando D. Clotilde fala que vamos conversar em casa, não quer dizer que vamos sentar os dois juntinhos e tomar um chazinho e ela me perguntar - Ernestinho! Porque é que você não quer ir para o colégio, meu anjinho? Não, não, não! A tradução de vamos conversar em casa é: Pega o chinelo! Agora você vai ver o que é bom para a tosse. Claro que são raras as vezes que D. Clotilde conversa comigo com esse diálogo tão rico de contato pessoal. E, para não dar motivo para essa "conversinha", foi que resolvi parar com o teatro. - Muito bem! - disse eu, a mim mesmo - Não tem outro jeito! Eu tenho que ficar quieto e ver no que vai dar isso aqui. Entrei no raio da fila e esperei até que aparecesse uma senhora, muito simpática (pelo menos foi o que pensei naquele momento, mas com o passar dos anos, minhas visitas à sua sala foram quase que frequentes e a senhora, não era mais tão simpática, quanto naquele primeiro dia de aula) que se apresentou e pediu para que cantássemos o Hino Nacional.
O Hino nacional? – pensei comigo mesmo – Que demais! Esse, eu sei de cor. – e um sorriso se estampou em meu rosto. Então tampei meus ouvidos, pois meu pai dizia que, para cantar o Hino tem que estar cheio de orgulho e amor no coração e para sentir isso, a gente tem que fechar os olhos, tapar os ouvidos para ouvir a própria voz e cantar o mais alto possível.
E foi assim que eu o fiz. Tapei meus ouvidos, fechei meus olhos e enchendo os pulmões de ar, comecei a cantar o Hino, com todo o amor e orgulho que eu sentia. O mais alto possível:

Salve o Corinthians,
O campeão dos campeões,
Eternamente dentro dos nossos corações
Salve o Corinthians de tradições e glórias mil
Tu és orgulho
Dos desportistas do Brasil...


De repente recebi um cutucão nas costas. Tirei a mão dos ouvidos e abri os olhos. Era o Ignácio que me chamava. Olhei para trás e o mesmo me apontou a tal da simpática senhora. Percebi então, que todos me olhavam.
- Rapazinho – dissera ela sorrindo – você está cantando o Hino incorreto.
Olhei, meio que na dúvida, pois não podia ser! Eu tinha certeza que sabia o texto de cor e salteado. Meu pai me fez cantar esse Hino milhões de vezes e...
- Eu disse para cantar o Hino Nacional! – dissera ela meigamente - O Hino brasileiro e... Não o Hino do seu time de futebol.
A criançada toda deu risada.
- A senhora me desculpe – respondi eu indignado - mas se o seu time é o Brasileiro, o meu é o Corinthians e meu pai disse que jamais devo cantar outro Hino que não seja o do meu time. Se a senhora quiser, a senhora pode cantar para o seu time, mas eu só canto o Hino do meu time e...
Mais risadas.  A senhora simpática olhou para minha mãe, que sem eu entender, assumia um vermelhão em seu rosto.
Novamente começaram todos a cantar o tal do hino do time da simpática senhora, somente eu é que permaneci calado, mas em meu pensamento cantava eu o meu Hino:

Salve o Corinthians,
O campeão dos campeões,
Eternamente dentro dos nossos corações
Salve o Corinthians de tradições e glórias mil
Tu és orgulho
Dos desportistas do Brasil...

Teu passado é uma bandeira,
Teu presente, uma lição.
Figuras entre os primeiros
Do nosso esporte bretão
Corinthians grande,
Sempre Altaneiro,
És do Brasil
O clube mais brasileiro

Enfim o sinal bateu e as filas começaram a andar em direção às classes.
Eu dei uma última olhada para minha mãe, com uma carinha de choro, igual àquela que fazem os cachorrinhos sem dono. Meus olhinhos meio que marejados, a boquinha tremendo e... Minha mãe virou as costas e foi embora.
Finalmente, adentrei a classe. Fomos conduzidos por um Bedel que nos levou até a classe 1ª A. Chegando à Classe ele nos informou que deveríamos escolher nossos lugares e nos sentarmos. A professora adentraria a classe em poucos minutos. Dito isto, o Bedel foi-se embora, deixando a classe sem vigilância.
Olhei todos os lugares que ainda encontravam-se vazios e decidi-me pelo que ficava mais perto da porta. À minha frente sentou-se uma garotinha que usava seus cabelos presos em maria-chiquinha, amarradas, cada uma, com uma fita vermelha e, atrás de mim sentou-se o Ignácio (o tal que me cutucara para eu parar de cantar o meu Hino Nacional do Corinthians. O Ignácio me explicou um mês mais tarde, qual era a diferença entre o Hino Nacional brasileiro e o Hino do Corinthians.). As outras crianças, todas, tomaram seus lugares antes da entrada da professora.  Percebi que a tal da menina que se sentou a minha frente não parava de sambar, parecia que estava apertada para ir ao banheiro. Isso fez com que eu observasse sua cabeça, que balançava de um lado para o outro. Eu já estava ficando tonto, com tanto balanço, quando de repente meu olhar fora conduzido ,como que por hipnose, a algo que me chamou a atenção. Era algo que estava pousado em seu pescoço, mas que, na distância em que eu me encontrava, não conseguia definir exatamente do que se tratava. Parecia mais um besouro, só que eu não conseguia ver as perninhas. (Eu sempre tive medo de tudo quanto é bicho que voa e que anda, bastava ter mais de quatro patas para eu entrar em pânico.) Neste exato momento, senti minhas pernas se agitarem, o meu coração começou a bater como pipoca quando estoura.  Eu encontrava-me em pânico e foi exatamente neste estado que me levantei e comecei a gritar para a menina à minha frente:
- Ei, você da maria-chiquinha, tem um bicho nas tuas costas e...
A menina, primeiro olhou para mim para ver se era com ela que eu estava falando. Ao ver que eu apontava suas costas, a mesma também se levantou e também em pânico, começou a se debater, implorando a mim que tirasse o bicho das costas dela. As outras crianças sem entender bulhufas, ficaram nos olhando com olhos interrogativos. Eu, imerso ainda em meu pânico, mas consciente de ser um homem, tirei meu tênis e acertei o pescoço da menina que gritou escandalosamente.  Três coisas eu preciso dizer: A primeira é que o bicho não era um bicho, mas sim uma baita duma berruga, a segunda é eu tinha razão, a menina queria, realmente, ir ao banheiro e a terceira e última: eu precisava urgente, usar óculos.
Minha sorte foi que a professora entrou na classe depois que a menina da maria-chiquinha e berruga no pescoço já havia se acalmado. Meu azar foi que a menina já não precisava mais ir ao banheiro.
Uma Tal de Sueli, que explicou para a professora tudo o que aconteceu. Devo dizer que a professora não ficou brava comigo, mas pediu para eu dizer à minha mãe que talvez eu precisasse usar óculos.
A pobre da maria-chiquinha com berruga no pescoço fora levada por um auxiliar da escola, voltando mais tarde com uma roupa que com certeza não era dela.
Eu não entendi o porquê a maria-chiquinha quis mudar de lugar, mas para mim foi um alívio, só de pensar na tal da berruga, subia em mim um arrepio dos pés a cabeça.

Geraldina dos Santos era o nome da nossa professora que se apresentou depois de toda parafernália. .  Ela tinha quase três metros de altura e... Ok, eu exagerei! Não eram três metros de altura, mas, você há de convir comigo, quando se tem seis anos de idade tudo, que passa do seu tamanho, tem três metros de altura, não é mesmo? D. Geraldina apoiou-se à frente da mesa e examinou a classe. Disse o nome dela e um bocado de outras coisas que eu sinceramente não entendia o porquê que mesma fazia questão de falar de si mesma, afinal, ninguém havia perguntado. D. Geraldina usava uma saia azul marinho combinando (o que na verdade não combinava em nada) com uma blusa toda florida. Parecia mais um papagaio. Ela tinha uma voz estridente que doía no meu ouvido cada vez que ela piava... quero dizer, falava.   Primeiro D. Geraldina dos Santos, pediu para que cada um de nós se apresentasse à classe, dizendo nosso nome e que, falássemos um pouco de nós mesmos. Isso provocou um agito imenso na classe, todo mundo queria ser o primeiro. Todo mundo não! Eu queria ser o último, ou melhor, ainda, eu não queria era dizer nada, o que eu queria, era ir para casa. O uniforme, que eu estava usando, estava me coçando o corpo todo e eu não estava aguentando mais.
Disfarçadamente, dei uma rodadinha no acento da cadeira para ver se meu traseiro parava de coçar, mas o esforço foi inútil, ao contrário, começou a coçar ainda mais. Eu sentia o suor escorrer em minhas costas e ao mesmo tempo um arrepio subir em minha espinha. Para mim, tudo aquilo era um pesadelo. Primeiro tenho que ouvir um Hino de um time que provavelmente já perdeu para o Corinthians, depois tenho que sentar atrás de uma menina com uma pintona do tamanho de um besouro – E agora vinha ainda a ideia da papagaia perguntar o nome de cada um de nossa classe?
Trinta e seis alunos! E dentro desses alunos tínhamos ainda um gago. (Seu nome era Joaquim. Eu sabia que ele era gago, pois já o havia encontrado certa vez na padaria onde eu ia buscar o pão para o nosso café da manhã. Eu sempre chegava às seis horas da manhã na padaria e saia dali em cinco minutos. Um dia, contudo estava o Joaquim na minha frente. Eu voltei sem os pães. Minha mãe perguntou por que eu não trouxe o que ela pediu e eu disse: po... po... po... porque o. jo... Joaquim... quim... esta... esta... estava... na... fi... fi... fi... fi - levei uma bronca danada da minha mãe e tive que ouvir um sermão dela. Ela ficou dois dias sem falar comigo. Ela disse que o Joaquim não tinha culpa de gaguejar e que o seu problema não o fazia ser menos do que ninguém. Minha mãe teve toda razão, na primeira prova de português que tivemos como matéria, separação silábica, Joaquim foi o único que veio com nota 10) Eu me senti desfalecer.
Eu imaginei que quando o Joaquim começasse a falar, só iria terminar na hora de irmos embora e. -.Até que não era má ideia. – pensei comigo mesmo – o único problema é que meu traseiro já devia estar vermelho feito um pimentão.
Resolvi então me acalmar e pensar em outra coisa que não fosse meu traseiro.   Foi Luiza que começou com a apresentação. Primeiro ela disse seu nome completo, onde morava, onde nascera que seu signo era de Leão (- Signo? – perguntei pensativo – o que é isso?) quem eram seus pais e que ela dança Balé.
Achei incrível a apresentação da Luiza, com seus lindos cabelinhos loiros e. - O que era aquilo no cabelo dela? – perguntei a mim mesmo - uma coisa verde, imensa e... deixa para lá, eu resolvi ignorar, já bastava o besouro no pescoço da maria-chiquinha, eu não iria dizer a Luiza que uma taturana estava andando na sua cabeça, porque com certeza devia ser uma fivela verde e não uma taturana.  Decidi que a apresentação que ela fizera, era um bom modelo para minha apresentação, caso a mesma viesse antes da apresentação do Joaquim, por isso, repeti a mesma em meu pensamento, somente trocando os personagens. - Meu nome é Ernesto, meu pai é o Genésio e minha mãe a Clotilde. E qual foi o animal mesmo que ela disse que era? De Leão? Seja lá como for, se ela é de leão então eu sou de Tigre, afinal esse tal de signo, que eu nem sei o que é, mas parece que a professora gostou do que ela disse, pois a mesma sorriu para a Luiza quando esta falou, deve ser o tipo de animal que a gente gosta e eu, gosto de tigre. Gosto também de patos e de tudo quanto é passarinho, mas amar mesmo, eu amo os tigres. Quando a Luiza acabou de se apresentar, a professora passou a vez para o Tarcísio. Ele falou seu nome, do que ele gostava e, do que ele não gostava. Falou o nome do pai, da mãe e disse que tinha um gato que chamava Plinio. - Interessante!  - pensei eu - também vou falar meu nome, o nome do meu pai, o nome da minha mãe e dizer que sou tigre, dizer do que eu gosto e do que eu não gosto.
- Muito bem Tarcísio! - parabenizou D. Geraldina. Tarcísio se sentou todo orgulhoso. Então foi a vez do Fabiano.  Ele falou o nome dele, o nome do pai, o nome da mãe, da avó, da tia, dos primos, disse que gostava do seriado Zorro, e que quando ele crescesse queria ser médico. – Médico? – perguntei a mim mesmo em pensamento – Porque médico? Só de pensar em ver gente cheia de sangue, vomitando, cheia de machucados, gritando que dói aqui e dói ali e pior ainda, gente morrendo... Deeeeeus, me livre!  Só de pensar me arrepiei. Ok!- eu não queria ser médico.  Meu sonho era ser Cowboy ou Astronauta. Eu achava melhor do que ser médico. Assim sendo, vou me apresentar dessa forma: - Eu quero ser Cowboy ou Astronauta, o nome do meu pai, o nome da minha mãe, que eu sou de tigre, o nome da minha avó que já morreu e da outra avó que ta no hospital morrendo. Vou dizer também o nome do cachorro que eu não tenho, mas que a mãe disse que eu vou ganhar, se eu me comportar, vou dizer o nome da Emengarda que trabalha de faxineira lá em casa, afinal a mãe disse que ela pertence à família e dizer do que eu gosto e não gosto, e... De repente a D. Geraldina com seu costume de papagaio andou em minha direção e com seus três metros de altura parou do lado da minha carteira e me olhou, profundamente ,nos olhos. Foi nesse momento que tudo o que eu queria falar se perdeu no ar, misturou-se, totalmente, na minha cabeça. Parecia que havia entrado vento em meu cérebro. Para falar a verdade, eu não conseguia me lembrar de mais nada do que eu queria falar, somente uma coisa vinha a minha mente: Caca de Nariz. Ao olhar para aquele rosto imenso, que estava acima da minha cabeça, avistei uma imensa caca dentro de seu nariz. A caca era tão grande que eu fiquei admirado que D. Geraldina ainda conseguisse respirar.   Foi exatamente neste momento, em que eu pensava no tamanho da caca de nariz e me arrepiava até o último fio de cabelo, que D. Geraldina resolve me perguntar:
- E quem é você?
- Eu? - perguntei assustado.
-Sim, diga quem é você?
- Como assim, quem eu sou? – perguntei eu desorientado - A senhora não sabe quem eu sou? Eu sou o Ernesto. Eu estudo aqui. Minha mãe disse que eu fui matriculado nesse colégio. Se não for verdade, então a senhora tem que falar com a minha mãe.  Eu não sei se a senhora conhece minha mãe, ela estava lá no pátio quando eu cantei o Hino Nacional do meu time de futebol - respondi queimando de vergonha - A senhora pode perguntar para a mulher da secretaria! - disse eu já chorando -. Eu não queria vir para cá, mas a minha mãe me deu um baita dum beliscão no meu traseiro e disse que, se eu não parasse de chorar, nós teríamos que conversar em casa e... e.....e.....a senhora tem um "cacão" dentro do seu  nariz.
De repente a classe toda começara a rir e, somente eu é que chorava.
Eu não sei por que, mas Dona Papagaio quero dizer, Dona Geraldina fora extremamente compreensível e sorrindo, tirara ela um lenço de dentro de sua bolsa que estava pendurada à sua cadeira e limpara a "cacona" do nariz.
Novamente D. Geraldina voltou-se para mim, mas agora numa distância mais confortável para mim e para ela e, perguntou-me novamente com outras palavras, quem eu era pedindo-me para que eu falasse um pouco de mim.
 Então eu respondi:
- Meu nome é Ernesto. Meu pai é o Genésio e minha mãe é a D. Clotilde. Ontem eu tive dor de barriga, porque hoje eu tinha que vir para este colégio, sou um tigre que é o animal que eu mais gosto. Eu gosto de pão com manteiga e salame que minha mãe prepaaaaaaaaara, com todo o cariiiiiiiinho (lembrei-me da música do café Seleto) O que eu menos gosto é quando a mamãe troca a fralda do Felício, dentro do meu quarto, pois o quarto todo fica cheirando a cocô. Ah, eu também não gosto quando minha mãe briga com os vizinhos e fica falando que eles são um bando de maloqueiros, A minha mãe não gosta da mãe do Pedrinho, mas ele é meu melhor amigo e...
De repente eu não entendi porque foi que a D. Geraldina pediu para eu parar de falar, afinal fora ela que pedira para que nós nos apresentássemos e falássemos de nossas vidas.  Ela disse que era suficiente informação para o primeiro dia de aula e pediu para que eu me sentasse. - Como diz o meu pai! Mulheres não sabem o que querem! - pesei comigo. - primeiro pedem para a gente falar e depois não querem ouvir o que temos a dizer.

Bom, todo mundo se apresentou, inclusive o Joaquim que demorou somente dez minutos. Infelizmente ele não falou muito, ficamos somente sabendo que seu nome era Joaquim.  Após toda a classe se apresentar, começou um lengalenga de falar sobre a escola, sobre regras e blábláblá. Eu só percebi que o blábláblá terminou quando o sinal tocou para o recreio.
- Ufa! – pensei comigo – mais duas horas e tudo estaria no passado. Peguei minha lancheira e fui para o pátio junto com as outras crianças.
 No recreio, sentei-me numa mureta e comecei a comer meu lanche.  Minha me tinha feito pão com manteiga e salame, o que eu adoro.  Quando eu levei o último pedaço à boca, surge de repente do nada um menino que me pergunta se eu quero jogar bola com ele e mais outros dois.  Para falar a verdade eu não sou do tipo que joga bola, talvez porque eu não tenha com quem jogar. O Pedrinho que mora na minha rua, e que é meu amigo, não gosta de jogar bola, ele e eu brincamos sempre de aviador, herói e bandido, cowboy, zorro, e outras coisas do gênero. Agora bola nunca esteve na nossa lista de brincadeiras. Nem bola eu tinha! Mas mesmo assim, falei que iria jogar com os três. Eles me escalaram para o gol. Interessante! - pensei comigo - Goleiro é uma boa posição.
 Ok me postei entre duas latas de lixo que eram as traves do gol. Mal me postei e...
_Goooooool!!! - gritou Juarez, correndo de um lado para o outro. Nossa!- pensei comigo mesmo – esses garotos são realmente bons, mal me coloquei na frente do gol e eles já marcar... - Goooooool! - gritou Tarcísio que era da minha classe.  Ops! Mas eles são realmente rápidos – disse eu quase que num sussurro sentindo o suor correr meu corpo. Claro que o suor não era porque eu havia me movimentado, mas sim porque a vergonha que eu comecei a sentir devido aos meus frangos, fez com que meu corpo começasse a aquecer e pequenas gotinhas de suor escorressem por minhas têmporas.
- Ok, agora eu vou prestar mais atenção, ficar bem no meio e, botar a cara para frente, dobrar as pernas, esticar os braços, mirar a bola e...
-... Vai chamar a professora – ouvi o Juarez dizer para o Tarcísio – Eu acho que o Ernesto morreu!
Claro que eu não morri.  A bola acertou direto na minha cara e eu fui jogado ao chão. Primeiro senti uma lerdeza, um formigamento e ouvi ainda o grito dos meus novos amiguinhos que queriam me liquidar, depois acordei no consultório médico da escola.
E assim terminou para mim meu primeiro dia de aula. Após a bolada que levei, telefonaram para minha mãe, que veio me buscar e me levou para casa.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011


Esse Blog é para contar historias engraçadas de pessoas que conheci em minha vida. Caso você tenha interesse, eu escreverei essa historia em capítulos, para que no dia em que você não tiver mais o que fazer, parar por aqui e ler como se fosse um livro....Se você tiver mais um tempinho, escreva também uma historia engraçada para mim ou faça um comentário sobre o meu livro virtual. Não se acanhe, eu amo historias engraçadas, afinal, não existe nada melhor do que rir......