domingo, 6 de novembro de 2011

Ernesto Cabreiro



Era uma segunda-feira, em Fevereiro, quando começaram as aulas. Eu havia sido matriculado num colégio, que ficava bem próximo a minha casa. Claro que como toda criança normal, eu esperneei, chorei, gritei e pedi pelo amor de Deus para minha mãe me deixar ficar em casa, o que em nada adiantou. Minha mãe teve que me arrastar, contra minha vontade, até chegar ao colégio que era maior do que São Paulo (Naquela época ouvi falar que São Paulo era muito grande e, portanto, tudo que era grande para mim, era maior do que São Paulo).
Era o meu primeiro dia de aula.  Eu me assustei ao avistar aquele monte de crianças, de todos os tamanhos.  Meu Deus! Imagine você o que foi que eu senti ao ver àquele bando de crianças de tamanhos desproporcionais ao meu?  Até um tempo atrás eu brincava ainda com crianças que eram, todas, do meu tamanho e de repente, a coisa mudou de figura, ou melhor, de tamanho. Definitivamente o meu mundo estava para se tornar outro. Eu, Ernesto Cabreiro, começara com a vida de seriedade e responsabilidades da qual meu pai havia dito. Eu, Ernesto Cabreiro virara um homem com H maiúsculo.
Mas agora era tarde para voltar atrás. Lembro-me que estufei o peito de ar, encolhi o bico de choro e então, com minha mãe, passei pelo secretariado, alcançando por fim o pátio do colégio, onde as crianças formavam fila, para irem para a classe. Eu pertencia à fila um A, ou seja, primeiro ano, classe A.
Minha mãe me deu um beijo e disse para eu entrar na fila. Para quê? Eu resolvi começar novamente com o meu escândalo. Primeiro, como que em câmera lenta, contorci minha boca mostrando os dentes, depois fechei os olhos espremendo-os com toda a força e por último segurei respiração até ficar com a cara roxa, como quem fosse explodir, dai soltei os berros e para completar meu teatro, esperneei como se estivesse tendo um ataque epilético.  Claro que todo mundo olhou para mim, principalmente a secretária, que sairá correndo para o pátio, para ver o que estava se passando.
Minha mãe ficou me olhando, com cara de quem diz: Eu não conheço essa criança!  Seu olhar voltou então para a secretária, depois de novo para mim e por último para a criançada que já se encontravam todos quietinhos em seus lugares observando, de camarote, o meu teatro.  Abaixando-se até minha orelha, sussurrara ela com toda sua autoridade:
- Para com isso menino! Olha só o vexame que você esta dando.
 Claro que não ficara somente no – Para com isso menino!...Minha mãe, vendo que ao contrário de parar, eu começara a gritar ainda mais alto, lascou ela, disfarçadamente, com um sorriso meio sem graça, um baita dum beliscão no meu traseiro, dizendo as seguintes palavras de motivação: Se você não parar agora com esse teatro aqui, a gente vai ter uma conversinha em casa.
Ops! - pensei comigo mesmo - a coisa ficou séria!   Quando D. Clotilde fala que vamos conversar em casa, não quer dizer que vamos sentar os dois juntinhos e tomar um chazinho e ela me perguntar - Ernestinho! Porque é que você não quer ir para o colégio, meu anjinho? Não, não, não! A tradução de vamos conversar em casa é: Pega o chinelo! Agora você vai ver o que é bom para a tosse. Claro que são raras as vezes que D. Clotilde conversa comigo com esse diálogo tão rico de contato pessoal. E, para não dar motivo para essa "conversinha", foi que resolvi parar com o teatro. - Muito bem! - disse eu, a mim mesmo - Não tem outro jeito! Eu tenho que ficar quieto e ver no que vai dar isso aqui. Entrei no raio da fila e esperei até que aparecesse uma senhora, muito simpática (pelo menos foi o que pensei naquele momento, mas com o passar dos anos, minhas visitas à sua sala foram quase que frequentes e a senhora, não era mais tão simpática, quanto naquele primeiro dia de aula) que se apresentou e pediu para que cantássemos o Hino Nacional.
O Hino nacional? – pensei comigo mesmo – Que demais! Esse, eu sei de cor. – e um sorriso se estampou em meu rosto. Então tampei meus ouvidos, pois meu pai dizia que, para cantar o Hino tem que estar cheio de orgulho e amor no coração e para sentir isso, a gente tem que fechar os olhos, tapar os ouvidos para ouvir a própria voz e cantar o mais alto possível.
E foi assim que eu o fiz. Tapei meus ouvidos, fechei meus olhos e enchendo os pulmões de ar, comecei a cantar o Hino, com todo o amor e orgulho que eu sentia. O mais alto possível:

Salve o Corinthians,
O campeão dos campeões,
Eternamente dentro dos nossos corações
Salve o Corinthians de tradições e glórias mil
Tu és orgulho
Dos desportistas do Brasil...


De repente recebi um cutucão nas costas. Tirei a mão dos ouvidos e abri os olhos. Era o Ignácio que me chamava. Olhei para trás e o mesmo me apontou a tal da simpática senhora. Percebi então, que todos me olhavam.
- Rapazinho – dissera ela sorrindo – você está cantando o Hino incorreto.
Olhei, meio que na dúvida, pois não podia ser! Eu tinha certeza que sabia o texto de cor e salteado. Meu pai me fez cantar esse Hino milhões de vezes e...
- Eu disse para cantar o Hino Nacional! – dissera ela meigamente - O Hino brasileiro e... Não o Hino do seu time de futebol.
A criançada toda deu risada.
- A senhora me desculpe – respondi eu indignado - mas se o seu time é o Brasileiro, o meu é o Corinthians e meu pai disse que jamais devo cantar outro Hino que não seja o do meu time. Se a senhora quiser, a senhora pode cantar para o seu time, mas eu só canto o Hino do meu time e...
Mais risadas.  A senhora simpática olhou para minha mãe, que sem eu entender, assumia um vermelhão em seu rosto.
Novamente começaram todos a cantar o tal do hino do time da simpática senhora, somente eu é que permaneci calado, mas em meu pensamento cantava eu o meu Hino:

Salve o Corinthians,
O campeão dos campeões,
Eternamente dentro dos nossos corações
Salve o Corinthians de tradições e glórias mil
Tu és orgulho
Dos desportistas do Brasil...

Teu passado é uma bandeira,
Teu presente, uma lição.
Figuras entre os primeiros
Do nosso esporte bretão
Corinthians grande,
Sempre Altaneiro,
És do Brasil
O clube mais brasileiro

Enfim o sinal bateu e as filas começaram a andar em direção às classes.
Eu dei uma última olhada para minha mãe, com uma carinha de choro, igual àquela que fazem os cachorrinhos sem dono. Meus olhinhos meio que marejados, a boquinha tremendo e... Minha mãe virou as costas e foi embora.
Finalmente, adentrei a classe. Fomos conduzidos por um Bedel que nos levou até a classe 1ª A. Chegando à Classe ele nos informou que deveríamos escolher nossos lugares e nos sentarmos. A professora adentraria a classe em poucos minutos. Dito isto, o Bedel foi-se embora, deixando a classe sem vigilância.
Olhei todos os lugares que ainda encontravam-se vazios e decidi-me pelo que ficava mais perto da porta. À minha frente sentou-se uma garotinha que usava seus cabelos presos em maria-chiquinha, amarradas, cada uma, com uma fita vermelha e, atrás de mim sentou-se o Ignácio (o tal que me cutucara para eu parar de cantar o meu Hino Nacional do Corinthians. O Ignácio me explicou um mês mais tarde, qual era a diferença entre o Hino Nacional brasileiro e o Hino do Corinthians.). As outras crianças, todas, tomaram seus lugares antes da entrada da professora.  Percebi que a tal da menina que se sentou a minha frente não parava de sambar, parecia que estava apertada para ir ao banheiro. Isso fez com que eu observasse sua cabeça, que balançava de um lado para o outro. Eu já estava ficando tonto, com tanto balanço, quando de repente meu olhar fora conduzido ,como que por hipnose, a algo que me chamou a atenção. Era algo que estava pousado em seu pescoço, mas que, na distância em que eu me encontrava, não conseguia definir exatamente do que se tratava. Parecia mais um besouro, só que eu não conseguia ver as perninhas. (Eu sempre tive medo de tudo quanto é bicho que voa e que anda, bastava ter mais de quatro patas para eu entrar em pânico.) Neste exato momento, senti minhas pernas se agitarem, o meu coração começou a bater como pipoca quando estoura.  Eu encontrava-me em pânico e foi exatamente neste estado que me levantei e comecei a gritar para a menina à minha frente:
- Ei, você da maria-chiquinha, tem um bicho nas tuas costas e...
A menina, primeiro olhou para mim para ver se era com ela que eu estava falando. Ao ver que eu apontava suas costas, a mesma também se levantou e também em pânico, começou a se debater, implorando a mim que tirasse o bicho das costas dela. As outras crianças sem entender bulhufas, ficaram nos olhando com olhos interrogativos. Eu, imerso ainda em meu pânico, mas consciente de ser um homem, tirei meu tênis e acertei o pescoço da menina que gritou escandalosamente.  Três coisas eu preciso dizer: A primeira é que o bicho não era um bicho, mas sim uma baita duma berruga, a segunda é eu tinha razão, a menina queria, realmente, ir ao banheiro e a terceira e última: eu precisava urgente, usar óculos.
Minha sorte foi que a professora entrou na classe depois que a menina da maria-chiquinha e berruga no pescoço já havia se acalmado. Meu azar foi que a menina já não precisava mais ir ao banheiro.
Uma Tal de Sueli, que explicou para a professora tudo o que aconteceu. Devo dizer que a professora não ficou brava comigo, mas pediu para eu dizer à minha mãe que talvez eu precisasse usar óculos.
A pobre da maria-chiquinha com berruga no pescoço fora levada por um auxiliar da escola, voltando mais tarde com uma roupa que com certeza não era dela.
Eu não entendi o porquê a maria-chiquinha quis mudar de lugar, mas para mim foi um alívio, só de pensar na tal da berruga, subia em mim um arrepio dos pés a cabeça.

Geraldina dos Santos era o nome da nossa professora que se apresentou depois de toda parafernália. .  Ela tinha quase três metros de altura e... Ok, eu exagerei! Não eram três metros de altura, mas, você há de convir comigo, quando se tem seis anos de idade tudo, que passa do seu tamanho, tem três metros de altura, não é mesmo? D. Geraldina apoiou-se à frente da mesa e examinou a classe. Disse o nome dela e um bocado de outras coisas que eu sinceramente não entendia o porquê que mesma fazia questão de falar de si mesma, afinal, ninguém havia perguntado. D. Geraldina usava uma saia azul marinho combinando (o que na verdade não combinava em nada) com uma blusa toda florida. Parecia mais um papagaio. Ela tinha uma voz estridente que doía no meu ouvido cada vez que ela piava... quero dizer, falava.   Primeiro D. Geraldina dos Santos, pediu para que cada um de nós se apresentasse à classe, dizendo nosso nome e que, falássemos um pouco de nós mesmos. Isso provocou um agito imenso na classe, todo mundo queria ser o primeiro. Todo mundo não! Eu queria ser o último, ou melhor, ainda, eu não queria era dizer nada, o que eu queria, era ir para casa. O uniforme, que eu estava usando, estava me coçando o corpo todo e eu não estava aguentando mais.
Disfarçadamente, dei uma rodadinha no acento da cadeira para ver se meu traseiro parava de coçar, mas o esforço foi inútil, ao contrário, começou a coçar ainda mais. Eu sentia o suor escorrer em minhas costas e ao mesmo tempo um arrepio subir em minha espinha. Para mim, tudo aquilo era um pesadelo. Primeiro tenho que ouvir um Hino de um time que provavelmente já perdeu para o Corinthians, depois tenho que sentar atrás de uma menina com uma pintona do tamanho de um besouro – E agora vinha ainda a ideia da papagaia perguntar o nome de cada um de nossa classe?
Trinta e seis alunos! E dentro desses alunos tínhamos ainda um gago. (Seu nome era Joaquim. Eu sabia que ele era gago, pois já o havia encontrado certa vez na padaria onde eu ia buscar o pão para o nosso café da manhã. Eu sempre chegava às seis horas da manhã na padaria e saia dali em cinco minutos. Um dia, contudo estava o Joaquim na minha frente. Eu voltei sem os pães. Minha mãe perguntou por que eu não trouxe o que ela pediu e eu disse: po... po... po... porque o. jo... Joaquim... quim... esta... esta... estava... na... fi... fi... fi... fi - levei uma bronca danada da minha mãe e tive que ouvir um sermão dela. Ela ficou dois dias sem falar comigo. Ela disse que o Joaquim não tinha culpa de gaguejar e que o seu problema não o fazia ser menos do que ninguém. Minha mãe teve toda razão, na primeira prova de português que tivemos como matéria, separação silábica, Joaquim foi o único que veio com nota 10) Eu me senti desfalecer.
Eu imaginei que quando o Joaquim começasse a falar, só iria terminar na hora de irmos embora e. -.Até que não era má ideia. – pensei comigo mesmo – o único problema é que meu traseiro já devia estar vermelho feito um pimentão.
Resolvi então me acalmar e pensar em outra coisa que não fosse meu traseiro.   Foi Luiza que começou com a apresentação. Primeiro ela disse seu nome completo, onde morava, onde nascera que seu signo era de Leão (- Signo? – perguntei pensativo – o que é isso?) quem eram seus pais e que ela dança Balé.
Achei incrível a apresentação da Luiza, com seus lindos cabelinhos loiros e. - O que era aquilo no cabelo dela? – perguntei a mim mesmo - uma coisa verde, imensa e... deixa para lá, eu resolvi ignorar, já bastava o besouro no pescoço da maria-chiquinha, eu não iria dizer a Luiza que uma taturana estava andando na sua cabeça, porque com certeza devia ser uma fivela verde e não uma taturana.  Decidi que a apresentação que ela fizera, era um bom modelo para minha apresentação, caso a mesma viesse antes da apresentação do Joaquim, por isso, repeti a mesma em meu pensamento, somente trocando os personagens. - Meu nome é Ernesto, meu pai é o Genésio e minha mãe a Clotilde. E qual foi o animal mesmo que ela disse que era? De Leão? Seja lá como for, se ela é de leão então eu sou de Tigre, afinal esse tal de signo, que eu nem sei o que é, mas parece que a professora gostou do que ela disse, pois a mesma sorriu para a Luiza quando esta falou, deve ser o tipo de animal que a gente gosta e eu, gosto de tigre. Gosto também de patos e de tudo quanto é passarinho, mas amar mesmo, eu amo os tigres. Quando a Luiza acabou de se apresentar, a professora passou a vez para o Tarcísio. Ele falou seu nome, do que ele gostava e, do que ele não gostava. Falou o nome do pai, da mãe e disse que tinha um gato que chamava Plinio. - Interessante!  - pensei eu - também vou falar meu nome, o nome do meu pai, o nome da minha mãe e dizer que sou tigre, dizer do que eu gosto e do que eu não gosto.
- Muito bem Tarcísio! - parabenizou D. Geraldina. Tarcísio se sentou todo orgulhoso. Então foi a vez do Fabiano.  Ele falou o nome dele, o nome do pai, o nome da mãe, da avó, da tia, dos primos, disse que gostava do seriado Zorro, e que quando ele crescesse queria ser médico. – Médico? – perguntei a mim mesmo em pensamento – Porque médico? Só de pensar em ver gente cheia de sangue, vomitando, cheia de machucados, gritando que dói aqui e dói ali e pior ainda, gente morrendo... Deeeeeus, me livre!  Só de pensar me arrepiei. Ok!- eu não queria ser médico.  Meu sonho era ser Cowboy ou Astronauta. Eu achava melhor do que ser médico. Assim sendo, vou me apresentar dessa forma: - Eu quero ser Cowboy ou Astronauta, o nome do meu pai, o nome da minha mãe, que eu sou de tigre, o nome da minha avó que já morreu e da outra avó que ta no hospital morrendo. Vou dizer também o nome do cachorro que eu não tenho, mas que a mãe disse que eu vou ganhar, se eu me comportar, vou dizer o nome da Emengarda que trabalha de faxineira lá em casa, afinal a mãe disse que ela pertence à família e dizer do que eu gosto e não gosto, e... De repente a D. Geraldina com seu costume de papagaio andou em minha direção e com seus três metros de altura parou do lado da minha carteira e me olhou, profundamente ,nos olhos. Foi nesse momento que tudo o que eu queria falar se perdeu no ar, misturou-se, totalmente, na minha cabeça. Parecia que havia entrado vento em meu cérebro. Para falar a verdade, eu não conseguia me lembrar de mais nada do que eu queria falar, somente uma coisa vinha a minha mente: Caca de Nariz. Ao olhar para aquele rosto imenso, que estava acima da minha cabeça, avistei uma imensa caca dentro de seu nariz. A caca era tão grande que eu fiquei admirado que D. Geraldina ainda conseguisse respirar.   Foi exatamente neste momento, em que eu pensava no tamanho da caca de nariz e me arrepiava até o último fio de cabelo, que D. Geraldina resolve me perguntar:
- E quem é você?
- Eu? - perguntei assustado.
-Sim, diga quem é você?
- Como assim, quem eu sou? – perguntei eu desorientado - A senhora não sabe quem eu sou? Eu sou o Ernesto. Eu estudo aqui. Minha mãe disse que eu fui matriculado nesse colégio. Se não for verdade, então a senhora tem que falar com a minha mãe.  Eu não sei se a senhora conhece minha mãe, ela estava lá no pátio quando eu cantei o Hino Nacional do meu time de futebol - respondi queimando de vergonha - A senhora pode perguntar para a mulher da secretaria! - disse eu já chorando -. Eu não queria vir para cá, mas a minha mãe me deu um baita dum beliscão no meu traseiro e disse que, se eu não parasse de chorar, nós teríamos que conversar em casa e... e.....e.....a senhora tem um "cacão" dentro do seu  nariz.
De repente a classe toda começara a rir e, somente eu é que chorava.
Eu não sei por que, mas Dona Papagaio quero dizer, Dona Geraldina fora extremamente compreensível e sorrindo, tirara ela um lenço de dentro de sua bolsa que estava pendurada à sua cadeira e limpara a "cacona" do nariz.
Novamente D. Geraldina voltou-se para mim, mas agora numa distância mais confortável para mim e para ela e, perguntou-me novamente com outras palavras, quem eu era pedindo-me para que eu falasse um pouco de mim.
 Então eu respondi:
- Meu nome é Ernesto. Meu pai é o Genésio e minha mãe é a D. Clotilde. Ontem eu tive dor de barriga, porque hoje eu tinha que vir para este colégio, sou um tigre que é o animal que eu mais gosto. Eu gosto de pão com manteiga e salame que minha mãe prepaaaaaaaaara, com todo o cariiiiiiiinho (lembrei-me da música do café Seleto) O que eu menos gosto é quando a mamãe troca a fralda do Felício, dentro do meu quarto, pois o quarto todo fica cheirando a cocô. Ah, eu também não gosto quando minha mãe briga com os vizinhos e fica falando que eles são um bando de maloqueiros, A minha mãe não gosta da mãe do Pedrinho, mas ele é meu melhor amigo e...
De repente eu não entendi porque foi que a D. Geraldina pediu para eu parar de falar, afinal fora ela que pedira para que nós nos apresentássemos e falássemos de nossas vidas.  Ela disse que era suficiente informação para o primeiro dia de aula e pediu para que eu me sentasse. - Como diz o meu pai! Mulheres não sabem o que querem! - pesei comigo. - primeiro pedem para a gente falar e depois não querem ouvir o que temos a dizer.

Bom, todo mundo se apresentou, inclusive o Joaquim que demorou somente dez minutos. Infelizmente ele não falou muito, ficamos somente sabendo que seu nome era Joaquim.  Após toda a classe se apresentar, começou um lengalenga de falar sobre a escola, sobre regras e blábláblá. Eu só percebi que o blábláblá terminou quando o sinal tocou para o recreio.
- Ufa! – pensei comigo – mais duas horas e tudo estaria no passado. Peguei minha lancheira e fui para o pátio junto com as outras crianças.
 No recreio, sentei-me numa mureta e comecei a comer meu lanche.  Minha me tinha feito pão com manteiga e salame, o que eu adoro.  Quando eu levei o último pedaço à boca, surge de repente do nada um menino que me pergunta se eu quero jogar bola com ele e mais outros dois.  Para falar a verdade eu não sou do tipo que joga bola, talvez porque eu não tenha com quem jogar. O Pedrinho que mora na minha rua, e que é meu amigo, não gosta de jogar bola, ele e eu brincamos sempre de aviador, herói e bandido, cowboy, zorro, e outras coisas do gênero. Agora bola nunca esteve na nossa lista de brincadeiras. Nem bola eu tinha! Mas mesmo assim, falei que iria jogar com os três. Eles me escalaram para o gol. Interessante! - pensei comigo - Goleiro é uma boa posição.
 Ok me postei entre duas latas de lixo que eram as traves do gol. Mal me postei e...
_Goooooool!!! - gritou Juarez, correndo de um lado para o outro. Nossa!- pensei comigo mesmo – esses garotos são realmente bons, mal me coloquei na frente do gol e eles já marcar... - Goooooool! - gritou Tarcísio que era da minha classe.  Ops! Mas eles são realmente rápidos – disse eu quase que num sussurro sentindo o suor correr meu corpo. Claro que o suor não era porque eu havia me movimentado, mas sim porque a vergonha que eu comecei a sentir devido aos meus frangos, fez com que meu corpo começasse a aquecer e pequenas gotinhas de suor escorressem por minhas têmporas.
- Ok, agora eu vou prestar mais atenção, ficar bem no meio e, botar a cara para frente, dobrar as pernas, esticar os braços, mirar a bola e...
-... Vai chamar a professora – ouvi o Juarez dizer para o Tarcísio – Eu acho que o Ernesto morreu!
Claro que eu não morri.  A bola acertou direto na minha cara e eu fui jogado ao chão. Primeiro senti uma lerdeza, um formigamento e ouvi ainda o grito dos meus novos amiguinhos que queriam me liquidar, depois acordei no consultório médico da escola.
E assim terminou para mim meu primeiro dia de aula. Após a bolada que levei, telefonaram para minha mãe, que veio me buscar e me levou para casa.

4 comentários:

  1. Olá! Ri muito com a sua história e estou esperando por um novo post! Quando terei o prazer de ler mais de suas aventuras Ernesto? Estarei aguardando ansioso!
    Felipe

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  2. Oi, Elaine Bärmann , gostei muito de sua história e com certeza virei aqui para ver outras. Vc pretende fazer outras não? Eu li para meu pai e ele se identificou muito com o seu personagem. Parabéns!
    Att.
    Lúcio

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  3. Muito obrigada pelos comentários, isso me deixou muito feliz. Com certeza Ernesto Cabreiro ficará feliz também. No momento ele anda meio ocupado, mas na próxima semana podem ter certeza que ele aparecerá aqui com suas novas aventuras. O título eu ja vou dizer agora: Meu primeiro amor.....Como tudo o que o Ernesto faz, sempre tem sua primeira vez.....um grande beijo à todos e realmente estou muito feliz pelos comentários.

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